Sustentabilidade da Segurança Social e Robotização

Sustentabilidade da Segurança Social e Robotização

A Robotização permite automatizar processos em vários setores de atividade e a Inteligência Artificial (IA) vai pouco a pouco incorporando capacidades de decisão nos processos de automatização. Assim, cada vez mais, estas são tendências que afetam as atividades da sociedade e terão impacto no futuro próximo, nomeadamente na sustentabilidade da Segurança Social (SS).

Tempo estimado de leitura: 10 minutes

A Sustentabilidade da Segurança Social

Os sistemas de segurança social pretendem substituir os rendimentos do trabalho quando ocorrem situações em que há alterações significativas no rendimento auferido, seja por doença, acidente, desemprego ou a saída da vida ativa.

Uma das tendências que nos deve preocupar é a diminuição da percentagem dos rendimentos que provêm do trabalho (“labour share”) em relação ao rendimento total, como se constata no gráfico do International Monetary Fund (IMF).

Perda de rendimento do trabalho; Fonte IMF, Economic Outlook de 2017
Perda de rendimento do trabalho; Fonte IMF, Economic Outlook de 2017

Depois desta proporção dos rendimentos do trabalho em relação ao rendimento total ter sido estável durante décadas, a partir dos anos 80 tem vindo a decair e, de acordo com este Economic Outlook de 2017 esta tendência é influenciada pelo rápido desenvolvimento da tecnologia e globalização.

Crescendo os salários numa proporção menor do que o aumento da produtividade, o rendimento da parte do trabalho diminui.

Sendo assim, uma parte significativa dos ganhos em produtividade vão para o capital. E, como o capital tende a concentrar-se na população com maior rendimento, isto levará à criação de maior desigualdade.

Por um lado, estas tecnologias poderão substituir o ser humano em determinadas tarefas, o que temos visto acontecer desde a revolução industrial. Contudo, agora, também outras funções que requerem um conhecimento e capacidades de interação, como o atendimento telefónico, as vendas por telefone ou mesmo no domínio das análises clínicas e radiológicas, estão sob pressão.

Por outro lado, em relação às funções nas quais passamos a ser “menos rentáveis”, a utilização das tecnologias poderá substituir o trabalho humano, libertando-nos para o incremento da inovação, das capacidades comportamentais, da resolução de problemas complexos ou, ainda, dos dilemas da esfera da ética e da moral.

Envelhecimento da População

Enquanto alguns preveem que a substituição de trabalhadores por robots em muitas indústrias levará a uma catástrofe social sem precedentes desde a Revolução Industrial, outros preveem uma substituição mais faseada.

Assim, o estudo “Demographics and Automation” apontam o fator demográfico como o principal motor dessa transformação.

Nos países onde os trabalhadores jovens (<26 anos) e de meia-idade (26-55 anos) forem comparativamente mais escassos do que os de maior idade (>55 anos), as novas formas de automação, em particular a utilização de robótica, tendem a ser implementadas.

Estes investigadores analisaram as diferenças demográficas em várias indústrias e países para encontrar as causas dos diferentes padrões de adoção destas tecnologias.

O número de robots por milhão de trabalhadores no setor industrial dos EUA foi de 9,1 em 2014, enquanto na Alemanha e no Japão era de 17,0 e 14,2 respetivamente, ambos com população mais idosa.

Assim, nos países com envelhecimento mais rápido, isto é, com maior decréscimo da proporção entre trabalhadores de meia-idade e os mais velhos, a velocidade de implementação de sistemas robotizados é superior.

Este estudo estima que um aumento de 10% no “ratio” número de trabalhadores de maior idade em relação aos jovens e de meia idade está associado a um aumento de 0,9 robots por milhar de trabalhadores.

Estes autores adiantam que a diferença demográfica entre a Alemanha e os EUA pode explicar a diferença existente no número de robots considerado por trabalhador.

Demografia e aumento da automação; Fonte: Daron Acemoglu e Pascual Restrepo, Demographics and Automation
Demografia e aumento da automação; Fonte: Daron Acemoglu e Pascual Restrepo, Demographics and Automation

Robotização e Impactos nos Negócios

A Robotização permite que as empresas melhorem a sua produtividade, produzindo mais produtos ou serviços com menos recursos humanos, o que levará à extinção de milhares de postos de trabalho.

Podemos, contudo, considerar para além da questão da produtividade, que os processos mais sofisticados de produção poderão beneficiar com a robotização e a utilização de IA, aumentando a qualidade dos produtos e reduzindo muito o nível de desperdício da produção industrial ou, nos setores de serviços, otimizando os processos, reduzindo custos e melhorando a qualidade.

Por isso, do ponto de vista empresarial, não só haverá uma redução dos custos inerentes à redução de mão de obra, mas também outros recursos como as matérias-primas e a energia consumida, entre outros, verão os seus custos reduzidos.

Normalmente é nos encargos com a mão de obra que os CEO´s depositam maior atenção, já que estes são provavelmente os maiores, mas também os mais conhecidos e normalmente associados aos custos fixos.

No que se refere aos postos de trabalhos é quase consensual que haverá mais postos extintos do que os criados por via da utilização de tecnologias mais modernas.

Se assim for, a sustentabilidade da Segurança Social estará em risco.

Vamos admitir que uma empresa tem 100 trabalhadores e que, com o investimento adequado, consegue reduzir os postos de trabalho em 20%.

Custos dos Recursos Humanos
Custos dos Recursos Humanos

Admitindo um salário médio anual de 11.200€, ultrapassando a controvérsia dos salários serem pagos em 12 meses ou 14 meses, os chamados dois meses de subsídio de Férias e de Natal.

Na verdade, os ditos “Subsídios” deveriam ser “renomeados” pois o salário dos trabalhadores é anual e os pagamentos é que podem acontecer em 12 ou 14 meses.

Assim, neste exemplo, considera-se o salário médio anual.

Com a chamada Taxa Social Única (TSU) de 23,75% e 11% para a entidade patronal e trabalhador, respetivamente, os valores a considerar são os que constam da tabela anterior.

Neste cenário a empresa poupa 277.200€ (224.000€+53.200€) no entanto, a sustentabilidade da Segurança Social pode estaem causa porque neste caso recebe menos 77.840€ de contribuições.

A ser assim em milhares de empresas, a SS não só terá dificuldade em ajudar as pessoas entretanto desempregadas, como terá dificuldade em ajudá-las na formação, reapetrechar o seu conhecimento e torná-las mais aptas para os novos desafios que a tecnologia vai impondo.

Situação mais grave será a prazo mais longo, quando estas pessoas atingirem a idade da reforma e poderá não haver capacidade de resposta da Segurança Social.

O que se pode fazer

O que se pode fazer

Para equilibrar a sustentabilidade da Segurança Social há posições diferentes, assentes em soluções diversas e perspetivas futuras desiguais.

As Favoráveis a que os Robots também paguem a Segurança Social

Há posições que favorecem a ideia de que os robots ao substituírem determinadas tarefas dos seres humanos devem pagar Segurança Social.

À medida que os postos de trabalho são extintos essa força robótica teria de pagar contribuições para que a SS se mantivesse sustentável, o que deveria continuar a ser assumido pelas empresas e integrante de responsabilidade social.

Manter os custos da Segurança Social e diminuir as Horas de Trabalho

Outra hipótese a considerar é manter os pressupostos, mas ir diminuindo as horas de trabalho, sem perda de remuneração (menos 1hr por dia ou menos 1 dia por semana).

Em vez de despedir 20 trabalhadores, havia que reduzir as horas proporcionalmente, por forma a obter o mesmo número de horas de trabalho, no total.

Será um estudo a realizar na medida em que não será tecnicamente possível esta fórmula simplista, mas podemos admitir que pode ser um caminho em que poderá haver um prémio pela componente de responsabilidade social, diminuindo o Imposto sobre Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC).

Os Robots não devem pagar a Segurança Social

Outros, por sua vez, defendem que obrigar as empresas a manter este encargo não as incentiva a investir em novas tecnologias e com isso a sua competitividade fica em causa.

Alguns dizem mesmo que os robots podem substituir mão de obra mais barata e que com a robotização os salários irão aumentar, pois serão necessários trabalhadores com mais competências técnicas e comportamentais.

Este ponto de vista, no entanto, é difícil de acompanhar depois dos resultados que conhecemos por via do estudo do World Economic Outlook (“Labor Share”) anteriormente referido.

Tentar chegar a um Consenso

Como é que se pode chegar a um equilíbrio entre diferentes perspetivas?

Por um lado, as empresas não podem perder competitividade e capacidade de inovação, mas por outro os trabalhadores devem ter os seus direitos garantidos, um princípio da responsabilidade social.

No limite, se não houver trabalhadores no ativo também não haverá quem beneficie dos produtos e serviços que as empresas oferecem, exceto os robots e os mais ricos.

A automação iniciou-se com a primeira revolução industrial, no século XIX, e não parou, sendo cada vez mais rápida a introdução de novas ideias e tecnologias.

Vamos admitir, como exemplo, que os equipamentos em Ativo têm um valor anual de amortizações de 1.000.000€.

Admitamos um novo investimento de 1.000.000€ em automação e que a amortização anual será de 200.000€/ano (amortizado em 5 anos).

Os valores a considerar em amortização seriam:

Investimentos e amortizações
Investimentos e amortizações

Vamos, agora, admitir haver uma taxa ou imposto que incida não exatamente sobre os robots mas nas amortizações que resultam desse investimento, que terá as suas capacidades de automatização integradas.

E, por exemplo, designar esse imposto como Taxa Social Responsável (TSR)

Sustentabilidade da Segurança Social Simulação de Nova Taxa Social Responsável acoplada às amortizações
Sustentabilidade da Segurança Social Simulação de Nova Taxa Social Responsável acoplada às amortizações

Já referimos que o investimento robótico pode trazer redução de outros custos e também, quer a melhoria de produtividade, quer um melhor conhecimento do mercado utilizando a IA podem levar a aumento das vendas.

Se além dos pagamentos para a Segurança Social introduzíssemos outros componentes dos custos e proveitos da empresa, que podem estar presentes nestes investimentos, teríamos uma Demonstração de Resultados que, de forma resumida, a seguir se apresenta.

Vamos admitir que o investimento que referimos traz aumentos nas vendas (5%) e redução dos custos que explicitamos no quadro a seguir.

Demonstração de Resultados com nova Taxa sobre as amortizações e redução de IRC
Demonstração de Resultados com nova Taxa sobre as amortizações e redução de IRC

Ter um imposto social ligado aos ativos da empresa, que pode ser considerado um custo e que pode ser abatido aos resultados, não estando diretamente ligado aos custos de pessoal e evitando a dupla tributação, pode ser um caminho a investigar.

As taxas poderiam variar conforme a antiguidade dos Ativos ou serem taxadas por igual.

Por exemplo

Sustentabilidade da Segurança social Nova Taxa Social Responsável acoplada às amortizações, simulação
Sustentabilidade da Segurança social Nova Taxa Social Responsável acoplada às amortizações, simulação

Neste caso a Demonstração de Resultados teria, de forma resumida, a seguinte configuração:

Nova simulação da Demonstração de Resultados
Nova simulação da Demonstração de Resultados

Estas ideias terão de ser amplamente discutidas e avaliadas utilizando indicadores das empresas, fazendo simulações e verificando quais os impactos previsíveis.

As questões em torno da sustentabilidade da Segurança Social também terão de ser avaliadas em termos globais, para que um maior número de países possa acordar numa estratégia comum.

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