Até agora estivemos voltados para o planeamento das necessidades de capital circulante e dos capitais próprios, que deveríamos ter para o nosso projeto empreendedor, tendo em vista alguma autonomia financeira que preservasse as necessidades de tesouraria. Mas se algum imponderável acontecer?
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Surge um acidente de percurso
Admitamos que o negócio já está em velocidade de cruzeiro e surge uma dificuldade que não conseguimos antecipar, como por exemplo, um surto pandémico?
Se a operação da empresa desacelerar ou mesmo parar, quando tempo podemos estar assim? As necessidades de tesouraria que foram planeadas, não vão aguentar.
E o que podemos fazer?
Custos Fixos, Custos Variáveis e Demonstração de Resultados
Num destes casos, com a parte operacional da empresa em desaceleração ou parada, a parte económica do negócio suspende-se.
Não vendemos nem produzimos os nossos produtos ou serviços. Não temos, por isso, custos variáveis, isto é, se não produzimos também não compramos matérias primas.
Contudo, temos custos fixos como sejam as rendas, consumos de eletricidade e água, entre outros, englobados no que se designa por fornecimentos e serviços externos que, apesar da operação não se realizar, continuam a existir.
Os encargos com os recursos humanos são, igualmente, custos que normalmente não estão associados à atividade e são, por isso, custos fixos.
Vejamos o Plano de Negócios para saber que o resultado do que vendemos e dos custos de exploração está espelhado na conta de Demonstração de Resultados.
Necessidades de Tesouraria
Na vertente financeira do projeto, vimos que é necessário um fundo de maneio, que equilibre o desfasamento entre os recebimentos de dinheiro e os pagamentos que temos de fazer.
Para isso, usamos esta fórmula para calcular:
Necessidades de Fundo de Maneio = Existências + Recebimentos de Clientes – Pagamentos a Fornecedores e Colaboradores
Analisámos qual o capital inicial para os investimentos em ativos, bem como o capital necessário para financiar o ciclo de exploração e cobrir as necessidades de tesouraria.
Qualquer empresa precisa de uma “almofada financeira” para fazer face a necessidades de tesouraria, como sejam atrasos nos recebimentos dos seus clientes ou antecipações não previstas de pagamentos, quer a fornecedores quer ao Estado.
Capitais Permanentes, Capitais Próprios e Fundo de Maneio
Os Capitais Permanentes (Cp) calculam-se somando os Capitais Próprios (Cp´) ou Situação Líquida com os débitos de Médio e Longo Prazo que estão espelhados no Passivo do Balanço.
O fundo de maneio é assim, a parte dos Capitais Permanentes (Cp) que não é absorvida no financiamento do imobilizado líquido (IL) e que fica disponível para financiar uma parte do ativo circulante.

Vejamos um exemplo: se considerarmos os Capitais Próprios (Cp´) como sendo de 34.000€ e os Débitos de Médio e Longo Prazo de 25.000€, o Capital Permanente (Cp) é a soma, igual a 59.000€.
Rubricas | Valor | Destino | Balanço |
---|---|---|---|
Disponibilidades | 5 000 € | Aplicações | Ativo |
Créditos C/ Prazo | 10 000 € | Aplicações | Ativo |
Existências | 15 000 € | Aplicações | Ativo |
Imobilizado Líquido (IL) | 40 000 € | Aplicações | Ativo |
Débitos C/ Prazo | 11 000 € | Origens | Passivo |
Débitos M/L Prazo | 25 000 € | Origens | Passivo |
Capital Próprio (Cp´) | 34 000 € | Origens | Situação Líquida |
Se o Imobilizado Líquido (IL) for de 40.000€ o fundo de maneio (FM) calcula-se da seguinte forma:
FM = Cp – IL = 59.000€-40.000€ = 19.000€
Capital Circulante, Ativo Circulante e Passivo Circulante
O Capital Circulante (Cc) que também se designa por Ativo de Curto Prazo é a parte do Ativo que não é Fixa, ou seja, as disponibilidades, os créditos de curto prazo e as existências, isto é, Ativo Circulante.
O Ativo Circulante é o valor que se espera converter em dinheiro no prazo de um ano e o Passivo Circulante é o valor das despesas a pagar no mesmo prazo, como sejam salários, impostos, empréstimos, fornecedores, etc.
Se o Capital Circulante (Cc) for de 30.000€ (Disponibilidades + Crédito C/ Prazo + Existências) e o exigível a curto prazo (Ecp) ou passivo circulante de 11.000€, o fundo de maneio também se pode calcular assim:
FM = Cc – Ecp = 30.000€-11.000€= 19.000€
Et Voilà! O Fundo de Maneio será a parte do capital circulante que não está comprometida com os encargos de curto prazo.
Citando William E. Deming, “Não se pode gerir o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, não há sucesso no que não se gere”.
Indicadores de Tesouraria
Os “analistas financeiros” têm indicadores que permitem analisar a saúde económica e financeira da empresa.
Vejamos três desses indicadores, que podem ser úteis na análise de situações de grande pressão na tesouraria.
Liquidez Geral
Liquidez Geral = Ativo Circulante / Passivo Circulante (ou Passivo de Curto Prazo) = 30.000€/11.000€ = 2,7
Um valor normal para este rácio deverá ser superior à unidade.
Ratio do fundo de maneio (RFM),
RFM = Capitais Permanentes (Cp) / IL = 59.000€/ 40.000€ = 1,48
Deverá ser superior a 1, denotando que há um equilíbrio financeiro mínimo.
Solvabilidade total
Solvabilidade total = Capitais Próprios (Cp´) / Passivo = 34.000€/36.000€ = 0,94
Quanto maior o seu valor, maior é a independência da empresa face às responsabilidades assumidas.
Assim, partindo da situação em que se encontra, simule cenários de desaceleração do negócio e verifique o impacto que terá nos vários valores e indicadores referidos.
Terá, provavelmente, de pedir um empréstimo ou candidatar-se a algum tipo de apoio que possa existir.
Em todo o caso, conhecer estes valores e os indicadores de desempenho e de autonomia financeira, ajudarão nas opções a tomar.
Por exemplo, veja aqui alguns apoios disponíveis no IAPMEI.
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