Salinas de Rio Maior

Salinas de Rio Maior, História de Um Museu Vivo

As Salinas de Rio Maior estão localizadas a cerca de 3km de Rio Maior, distrito de Santarém. No sopé da Serra dos Candeeiros, em pleno Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros, são uma maravilha da natureza que se mantém praticamente inalterada desde os tempos pré lusitanos. A história das salinas de Rio Maior regista-se num museu vivo.

Tempo de leitura: 9 minutes

A História Geológica

O sal-gema, assim lhe chamavam os romanos, é uma rocha sedimentar formada em antigas bacias marinhas que, por reações químicas e evaporação da água, cristalizaram o sal, composto essencialmente de cloreto de sódio.

Pela forma como se formaram também se designam por rochas sedimentares e, em particular neste caso, por quimiogénicas e evaporitos.

Os sais que compõem estes evaporitos, cristalizam no sistema cúbico e constituem o mineral designado halite (fonte: Infopédia ).

Imagem: Halite; Fonte Lech Darski; CCA 4.0
Imagem: Halite; Fonte Lech Darski; CCA 4.0

A jazida de sal-gema de Rio Maior ocupa uma grande extensão, entre Leiria e Torres Vedras, tendo-se formado há milhões de anos, depois do recuo do mar que agora está a 30Km.

Exploração do Sal-Gema

A história das salinas de Rio Maior vem de longe.

Pensa-se que a exploração do sal gema já existe desde a Pré-História.

O sal era muito importante nas civilizações antigas. Além de condimento, servia para a conservação de carnes, peixes e outros alimentos. Também é utilizado na preparação de peles e na conservação do couro.

No Império Romano distribuíam rações de sal aos exércitos e daí a palavra salário, do latim “salarium” que significa pagamento pelo sal.

Nas Salinas de Rio Maior, o sal chega a ser o meio de pagamento de jornas.

No entanto, as Salinas de Rio Maior têm oito séculos de história. Existe um documento, guardado na Torre do Tombo, em que Pero Baragão ou D´Aragão e sua mulher Sancha Soares venderam à Ordem dos Templários a “quinta parte que tinham do poço e Salinas de Rio Maior.

É um contrato em que se descrevem os limites do terreno que foi vendido aos Templários e testemunhado por várias pessoas, datado de 1177.

É, pois, um contrato com uma particularidade histórica interessante, já que as conquistas de Santarém e de Lisboa em 1147 por D. Afonso Henriques, ocorreram 30 anos antes. O próprio D. Afonso Henriques só foi reconhecido pelo Papa Alexandre III em 1179, na bula “Manifestis Probatum” (Fonte Infopedia).

Com a extinção da Ordem dos Templários, em 1312, os seus bens em Portugal passaram para a coroa e D. Dinis ao fundar a Ordem de Cristo entregou-lhe os bens dos Templários.

A importância das salinas manteve-se e no século XV D. Afonso V foi proprietário de cinco talhos, além de pertencer à Coroa ¼ da produção dos restantes marinheiros (salineiros) (Fonte: Galopim de Carvalho, O Sal na História da Terra e do Homem).

Entretanto as salinas passaram a ser pertença dos Condes do Vimioso por compra à Casa de Bragança e no momento em que o primeiro monarca dessa dinastia foi proclamado Rei, D. João IV.

Foram depois os herdeiros de Conde de Vimioso que venderam estas parcelas das salinas a vários proprietários e que se mantêm nos dias de hoje.

Produção de Sal nas Salinas de Rio Maior

A jazida de sal-gema é atravessada por muitos cursos de água, alguns dos quais alimentam um poço-mãe, com aproximadamente oito metros de profundidade e quatro de diâmetro (Fonte: Património Cultural, Salinas da Fonte da Bica). Desse poço é extraída a água salgada, sete vezes mais salgada que a água do Oceano Atlântico.

Enquanto o cloreto de sódio nas Salinas de Rio Maior constitui 96% da mineralização total, este valor não vai além de 77% a 78% no Oceano. É esta a razão da extrema pureza deste sal em cloreto de sódio.

A água salgada era retirada do poço por meio de picotas ou cegonhas que trazem um balde cheio de água, conduzido depois através de regueiros para os talhos ou cristalizadores, onde a evaporação da água se realiza.

Imagem: Salinas de Rio Maior; História; O poço, as picotas e pirâmides de sal a secar
Imagem: O poço, as picotas e pirâmides de sal a secar

Os talhos são compartimentos ou tanques, inicialmente feitos de terra batida e substituídos por pedra ou cimento.

Atualmente usam-se mangueiras e bombas que retiram a água salgada do poço e a conduzem para os talhos.

Cada marinheiro que manobrava a vara da picota, tinha de tirar 100 baldes de água, tarefa que era designada por “uma pega”.

As Salinas de Rio Maior têm 470 talhos de diversas configurações. Há ainda 70 esgoteiros, onde a água é colocada para ser distribuída pelos talhos (Fonte: Património Cultural, Salinas da Fonte da Bica).

Essa água salgada, dependendo das condições climatéricas, fica cerca de um ou dois dias exposta ao Sol e ao vento para que a água se evapore ficando depositado o sal no fundo desses talhos.

É o momento de intervenção dos marinheiros, os trabalhadores do sal, para retirar esse sal para as eiras, onde que possa secar em pequenas pirâmides.

Imagem: Detalhe do poço e picotas, Salinas de Rio Maior
Imagem: Detalhe do poço e picotas, Salinas de Rio Maior

Cada talho tem o seu proprietário, mas o poço e as picotas ou os meios mecânicos atuais, são pertença de todos.

O Que a História nos Legou

Flor de Sal

Se houver um período muito quente e com pouco vento pode acontecer que a água evapore mais depressa e isso vai permitir que a cristalização do sal seja mais rápida, motivo pelo qual os cristais formados são mais finos.

Essa lâmina de cristais salinos forma-se à superfície e é colhida ao final do dia.

Queijos de Sal Refinado

O sal é moldado em formas e levado a fornos de lenha. Ficam com uma forma de queijo e, para serem utilizados, basta raspá-lo com uma faca para o sal se libertar.

Casas ou Casotas de Madeira

Depois de seco, o sal é recolhido em pequenas casas de madeira que servem de armazém.

Imagem: Casa de madeira, troncos de oliveira e fechadura da porta
Imagem: Casa de madeira, troncos de oliveira e fechadura da porta

Os suportes laterais exteriores das casas são troncos de oliveira.

Imagem: Fechadura da porta, tronco de oliveira como suporte
Imagem: Fechadura da porta, tronco de oliveira como suporte

Fechaduras de Madeira

Para além das casas, as próprias fechaduras são feitas em madeira. Têm um conjunto de ranhuras ou dentes, tal como as chaves, que é colocada com os dentes para cima. Quando se pretende abrir a porta, pressiona-se a chave para cima para que a tranca se solte.

Imagem: Fechadura da porta do Restaurante Salarium
Imagem: Fechadura da porta do Restaurante Salarium

Não existem duas chaves iguais.

Imagem: Fechaduras de porta
Imagem: Fechaduras de porta

Réguas de Escrita

Imagem: Réguas de escrita
Imagem: Réguas de escrita

Os taberneiros usavam réguas para assentar a despesa feita por cada marinheiro na taberna nos intervalos de cada “pega”.

Usavam sinais como círculos e quadrados que representavam a bebida e a quantidade fornecida.

Quando a safra terminava o marinheiro pagava a sua despesa com o sal que tinha ganho.

A “escrita” estava assim à vista de todos.

Cada um sabia em qualquer momento o que devia e todos sabiam qual o que bebia em excesso, ajudando o taberneiro a receber mais facilmente as dívidas.

Visitas Guiadas e Restauração nas Salinas de Rio Maior

Os salineiros são agricultores desta região, Fonte da Bica, Pé da Serra e Casal Calado, que complementam a sua atividade com a safra do sal, uma atividade tipicamente de Verão.

Estão agora associados na Cooperativa que nasceu em 1979.

Neste local tem ao dispor visitas guiadas, lojas e restaurantes.

Escolhemos o Restaurante Salarium, onde nos deliciámos com um Medalhão de Vitela Flor de Sal, acompanhado com um tinto da casa. Opção que recomendamos.

Imagem: A opção gastronómica
Imagem: A opção gastronómica

O Natal nas Salinas de Rio Maior

No período natalício há atrações particulares, quer nos tradicionais presépios construídos com o sal, quer nas ofertas das lojas.

Imagem: Detalhe do Presépio na Cooperativa das Salinas de Rio Maior
Imagem: Detalhe do Presépio na Cooperativa das Salinas de Rio Maior

Com atrações adequadas à época.

Imagem: A Terra do Sal em ambiente Natalício
Imagem: A Terra do Sal em ambiente Natalício

Localização das Salinas de Rio Maior

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1 thought on “Salinas de Rio Maior, História de Um Museu Vivo”

  1. Idalina Henriques

    Sao artigos de interesse…mesmo que se conheca o local… para quem esta fora do seu “cantinho Natal”…. mata saudades… e o saber nunca ocupou lugar!

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