A Praça do Comércio, designada também por Terreiro do Paço ou Paço da Ribeira nos tempos da realeza, é uma praça junto ao Rio Tejo na Baixa de Lisboa. A história de Lisboa é indissociável do Terreiro do Paço e da Praça do Comércio, designação adotada após o terramoto de 1755.
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Índice
Os Fenícios em Lisboa
O Terreiro do Paço, inicialmente conhecido como a Ribeira das Naus, era uma zona submersa quando a cidade foi fundada pelos Fenícios, um porto seguro para estes poderem fazer o seu comércio.
Recentemente foram descobertos vestígios arqueológicos durante as obras efetuadas no Palácio dos Condes de Coculim, bem perto da Praça do Comércio de Lisboa ou Terreiro do Paço.
No Museu existente no hotel, agora aberto nesse antigo Palácio, está uma estela com 73 centímetros de altura, com um texto funerário em fenício.
Uma prova do povoamento de Lisboa, entre os séculos VIII e VII antes de Cristo.

A Mudança da Casa Real para a Ribeira das Naus
Com o passar do tempo a Ribeira das Naus deixou de estar submersa e foi-se tornando numa praia. Adquiriu a configuração atual quando, em 1498, o Rei D. Manuel I decide construir um novo Palácio na zona da Ribeira das Naus.
A Corte deixaria assim o Paço da Alcáçova, no Castelo de S. Jorge, onde os reis portugueses habitaram durante cerca de 250 anos.
O antigo Paço da Alcáçova foi quase inteiramente destruído num terramoto que ocorreu em 1531. Ainda existem alguns vestígios desse Paço no interior das muralhas do Castelo.

Os principais estaleiros portugueses, chamados de tercenas nessa época, funcionavam na Ribeira das Naus.

Para o novo Paço da Ribeira se instalar no local onde está hoje, D. Manuel I decide, também, deslocar essas tercenas para a zona contígua a Ocidente do Palácio, com o objetivo de construir um novo estaleiro naval, mais funcional e com maior capacidade.
Foram criados edifícios para alojar toda a administração e logística naval, incluindo o Arsenal da Marinha e a Alfândega.
Nos dias de hoje pode ver-se o local desses estaleiros, junto ao Ministério da Marinha, um pouco a Ocidente do Paço da Ribeira.
O Paço da Ribeira foi assim erguido sobre essas antigas tercenas de Lisboa.
Duas ribeiras, a de Valverde e a de Arroios, desaguam num esteiro do Tejo. Foi necessário encanar essas duas ribeiras para se poder erguer o Palácio. Essa estrutura ainda hoje subsiste, longe dos nossos olhares, no subsolo da Baixa Pombalina.
A descoberta do caminho marítimo para a India e o incremento no comércio das especiarias do Oriente para a Europa revelou-se uma decisão estratégica para a Coroa estar mais perto e, assim, melhor poder controlar o comércio marítimo.
O Paço da Ribeira está defendido por um Torreão sobre o Rio, o Torreão desenhado por Terzi.
Neste Torreão a Corte podia vigiar mais facilmente a entrada e saída de navios do porto de Lisboa.
No primeiro piso do Torreão funcionava a Casa da Índia, instituição criada por volta de 1503, que assegurava o monopólio Régio de navegação e o comércio desenvolvido com os novos territórios descobertos no século XVI.

Os bens e as especiarias armazenadas e licitadas pelos comerciantes de toda a Europa eram devidamente controlados, a fim da Coroa poder retirar o que hoje se chama de imposto.
Era também neste Torreão que existia a Sala dos Tudescos, onde se faziam os banquetes e festividades mais importantes da Corte portuguesa.

Com o estatuto económico e mercantil reforçado o Terreiro do Paço incorpora novas estruturas da Alfândega, o Arsenal da Marinha, a Casa da Índia, a Casa da Moeda e o Teatro da Ópera do Tejo inaugurado pouco antes do terramoto.
O Terramoto de 1755
O Paço da Ribeira foi completamente destruído pelo terramoto de 1755 e pelo devastador maremoto que se lhe seguiu.
Perderam-se então, e para sempre, os tesouros artísticos que foram acumulados durante os duzentos e cinquenta anos que a Corte aí viveu e que coincidiu com todo o período das Descobertas.
Nessa destruição perderam-se os cerca de 70.000 volumes da Biblioteca do Paço, uma perda cultural comparável à destruição da Biblioteca da Alexandria.
Também o arquivo real com os documentos relacionados com a exploração dos oceanos, descobertas de locais, incluindo o descobrimento do Brasil, foram perdidos.
Reinava na época D. José I, que teve de mudar juntamente com a Corte para o Alto da Ajuda, para um palácio feito de madeira e tela, local que passou a ser conhecido pelo nome de Real Barraca.

A Reconstrução e a Transformação na Praça do Comércio de Lisboa
Era Secretário de Estado do Reino (Primeiro Ministro) de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal.
Este toma o encargo da reconstrução de Lisboa, formando a Casa do Risco das Obras Públicas, onde coloca como coordenador o engenheiro-mor do Reino, Manuel da Maia. Eugénio dos Santos e Carlos Mardel eram dois dos seus diretos colaboradores.
Esta equipa apresentou três projetos de reconstrução ao futuro Marquês de Pombal para a área que vai do Terreiro do Paço ao Rossio.
O Ministro do Rei opta pela solução mais radical: arrasar a zona da Baixa de Lisboa e reconstruir os seus bairros.
A planta desenhada por Eugénio dos Santos apresenta uma nova cidade, com oito ruas no sentido norte-sul e entrecortadas por nove ruas, no sentido este-oeste.
A construção de casas fica sujeita a uma clara harmonia entre a largura das ruas e a largura e altura dos prédios.
Como a Bolsa do Comércio passaria para este local, referido num alvará de 1759, passou a designar-se por Praça do Comércio, o espaço central da burguesia mercantil e o novo centro do governo do País. A edificação da Bolsa de Comércio ficou a cargo dos comerciantes de Lisboa.

No centro da Praça do Comércio foi implantada, em 1775, a estátua equestre de D. José I.
Grandes acontecimentos
A Praça do Comércio, antes Paço da Ribeira, ficou associado a alguns acontecimentos entre os mais marcantes da História de Lisboa e de Portugal.
Restauração da Independência
No dia 1 de dezembro de 1640, perante o povo que acorreu ao Terreiro do Paço, quarenta fidalgos portugueses destronaram a dinastia de Habsburgo e aclamam a de Bragança.
É presa a Duquesa de Mântua e o Secretário de Estado Miguel de Vasconcelos, é morto e atirado de uma janela do Palácio para o Terreiro.

Morte do Rei D. Carlos
O Rei D. Carlos e seu filho D. Luis Filipe foram assassinados em 1 de fevereiro de 1908.
Passavam pelo lado ocidental da Praça, com a Rainha Dª Amélia e o Principe Manuel, vindos de Vila Viçosa e a caminho do Paço das Necessidades.

A Revolução de 1910
A Praça do Comércio assistiu ao desembarque da Marinha no Cais das Colunas para ocupar lugares estratégicos na cidade.
A República é proclamada no dia 5 de outubro de 1910, na Praça do Município, também junto ao Terreiro do Paço e batizado como Praça do Comércio de Lisboa, após a reconstrução Pombalina.

25 de Abril de 1974
No dia 25 de Abril de 1974 foi na Praça do Comércio que se assistiu a um dos episódios mais dramáticos e decisivos da queda do Estado Novo.
O Capitão Salgueiro Maia, ao comando do Regimento de Cavalaria de Santarém, ocupa o Terreiro do Paço e enfrenta com sucesso a tentativa de reocupação das forças fiéis ao regime.

Pode ver neste vídeo uma recriação do terramoto de 1755.
Saiba o que fazer em Lisboa, além da Praça do Comércio.
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