Planisfério Português de 1502; Fonte Anónimo Português (1502), Public domain, via Wikimedia Commons

Planisfério português de 1502, obtido por Cantino, espião de Itália

O designado “Planisfério de Cantino” guardado na Biblioteca Estense de Modena em Itália, foi obtido pelo espião italiano Alberto Cantino a mando de Ercole de Este, Duque de Ferrara, a sul de Veneza. É o planisfério português mais antigo, de 1502, que se conhece.

Tempo de Leitura: 4 minutes

Planisfério de Cantino

Cantino estava ao serviço do Duque de Ferrara em Lisboa no início do século XVI e fez uma encomenda clandestina possivelmente a um cartógrafo das Oficinas Reais de Lisboa, que nunca foi identificado.

O verdadeiro autor é por isso desconhecido, mas sabe-se que o espião italiano conseguiu obter e enviar clandestinamente um mapa detalhado dos descobrimentos portugueses até 1502, o Planisfério de Cantino.

Os comerciantes italianos estavam preocupados com o futuro do comércio de especiarias vindas do oriente que eles ainda controlavam, mas o caminho alternativo que estava a ser descoberto pelos portugueses podia colocar em causa essa hegemonia.

O novo caminho marítimo para as Índias, contornando toda a costa africana estava identificado neste Planisfério português de 1502 em que aparecia pela primeira vez o contorno do litoral brasileiro.

É provável que as informações sobre a costa brasileira tenham sido obtidas a partir de relatos e mapas produzidos pelos navegadores que participaram da expedição de Pedro Álvares Cabral.

Cantino pagou doze ducados de ouro ao cartógrafo pelo planisfério que era baseado no “padrão real” que ficava na Casa da Guiné e da Mina em Lisboa, padrão esse que era secreto. Possivelmente este cartógrafo podia pertencer ao grupo dos cartógrafos oficiais de D. Manuel I.

Alberto Cantino, por seu turno, cobrou ao Duque de Ferrara vinte ducados em ouro. O ducado era feito de ouro com 0,986 de pureza e pesava 3,5 gramas, mais tarde, em 1495, apareceu a primeira moeda global “O Português”.

O planisfério de Cantino é uma das cartas náuticas mais antigas e que mostra o litoral do Brasil, parte da América do Sul, além das costas de África e Ásia.

O planisfério é muito valioso, não só pela informação que fornece sobre as viagens marítimas do final do século XV, como também pela beleza que apresenta.

É uma informação estratégica e por isso mesmo secreta, que continha as descobertas ocorridas, mas também as que continuavam a ocorrer e que eram atualizadas pelos cartógrafos oficiais da Coroa portuguesa.

Planisfério português de 1502, obtido por Cantino, espião de Itália
Planisfério português de 1502, obtido por Cantino, espião de Itália; Fonte: Anónimo Português (1502), Public domain, via Wikimedia Commons

Padrão Real na Casa da Guiné e da Mina

A Casa da Guiné e da Mina era a entidade responsável pela administração das colónias portuguesas em África.

Foi criada no século XV para controlar os fluxos comerciais entre Portugal e as suas colónias.

Originalmente localizada em Lagos, após a morte do Infante D. Henrique foi transferida para Lisboa em 1463.

Esses armazéns tiveram diversas denominações, conforme o lugar de origem dos produtos.

Assim, originalmente foi “Casa da Guiné”, posteriormente “Casa da Guiné e Mina” (1482-1483), “Casa da Índia e da Guiné” (1499). A partir de 1503, passou a ser utilizada a denominação de “Casa da Índia”.

Sob a supervisão do “Vedor da Fazenda” (tesoureiro real) todos os produtos tinham de ser entregues à Casa, tributados e vendidos a um preço acordado, sendo depois os rendimentos pagos aos proprietários.

Era nos seus armazéns que os funcionários régios descarregavam, arrolavam e controlavam os produtos provenientes das colónias que eram monopólio da Coroa, cobrando os respetivos impostos.

A Casa da Índia funcionava como alfândega, escritório central de contabilidade para as várias feitorias no exterior, arquivo, armazém, autoridade de pessoal para marinheiros, soldados e comerciantes, bem como um dos primeiros serviços de correio do mundo. Fixava os preços e verificava as compras, vendas e pagamentos.

Além disso equipava as frotas, organizava as necessárias escoltas militares, geria a entrada e partida dos navios e emitia os vários certificados e licenças.

Toda a informação que ia sendo obtida durante o processo das descobertas portuguesas era atualizada nos mapas e guardada na sala dos mapas.

O padrão real, era uma mapa-múndi de grandes dimensões que pendia nessa sala e mostrava todas essas descobertas. O planisfério de Cantino seria uma cópia desse padrão.

Paço da Ribeira 1572; Fonte Georg Braun and Franz Hogenberg, Public domain, via Wikimedia Commons Civitates
Paço da Ribeira 1572; Fonte Georg Braun and Franz Hogenberg, Public domain, via Wikimedia Commons

O Paço da Ribeira onde a Casa da Índia estava localizada, perpendicular ao rio Tejo, possuía uma torre central e um terraço frente ao rio. À esquerda vê-se o estaleiro (Ribeira das Naus), com alguns navios em construção. A área aberta à direita é o Terreiro do Paço, com o porto e um pelourinho.

O padrão real terá sido destruído pelo terramoto de 1755 que devastou Lisboa.

Infelizmente, muitos documentos e artefactos históricos foram perdidos durante o terramoto e o incêndio subsequente e é possível que o padrão real tenha sido uma das vítimas dessa tragédia.

Resta o Planisfério de Cantino de 1502 existente em Modena, Itália.

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