Há uma disputa com mais de 200 anos, entre Portugal e Espanha, pela soberania de Olivença. A “questão” de Olivença, tem tido momentos difíceis desde 1297, data em que D. Diniz acordou com Castela o traçado das fronteiras. Uma história que vale a pena recordar e deixar o desafio de encontrar a portugalidade num local em disputa, mas de vizinhança pacificada. Deixamos uma lista de sugestões sobre o que visitar em Olivença.
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História de Olivença, Portugal
Olivença foi reconquistada aos Mouros pelos Templários e passou a integrar o território português em 1297, por acordo com o reino de Leão e Castela, no Tratado de Alcanizes (Alcañices em castelhano).
Este tratado, assinado pelo rei português D. Dinis e pelo rei de Leão e Castela D. Fernando IV, definia o traçado das linhas de fronteira, que se mantiveram, à exceção da perda de Olivença em 1801.
O Tratado de Alcanizes trocou territórios de direito português por outros lugares dos Reinos de Leão e Galiza, um dos quais Olivença.
Para a manutenção de um clima de paz, o tratado também consagrava os casamentos dos seus dois filhos. O futuro rei de Portugal D. Afonso IV, com D. Beatriz de Castela e, o próprio D. Fernando IV, com a infanta D. Constança.
No Arquivo Nacional da Torre do Tombo, há um exemplar em castelhano deste Tratado.
D. Dinis mandou construir uma fortificação e, mais tarde, D. João II reforçou-a com a construção de uma torre de menagem. Com 37 metros de altura esta é a mais alta das torres de fortaleza da fronteira portuguesa. Se tiver tempo disponível, junte este local na lista para o que visitar em Olivença.
A ponte que liga Elvas a Olivença, sobre o Rio Guadiana, foi mandada erguer pelo Rei D. Manuel I, no local de Nossa Senhora da Ajuda.
A “Questão” de Olivença
Olivença integra atualmente a Comunidade Autónoma da Estremadura espanhola e é objeto de litígio entre Portugal e Espanha.
O Tratado de Alcanizes estabeleceu Olivença como parte de Portugal, mas, em 1801, pelo Tratado de Badajoz e na sequência da invasão de Portugal por forças franco-espanholas de Napoleão Bonaparte e Manuel de Godoy, Portugal viu-se obrigado a assinar este acordo.
Acordo denunciado pelo rei regente de Portugal D. João VI, em 1808, no Brasil, para onde a família Real se mudara na sequência da invasão.
Pretendia Napoleão, com o apoio de Godoy, derrotar a Grã-Bretanha com a qual Portugal tinha uma aliança, o Tratado de Windsor de 1386, ainda hoje em vigor.
Após a derrota de Napoleão, as forças aliadas entraram em Paris em março de 1814. O Tratado de Paris termina com as hostilidades das guerras napoleónicas, assinado em abril desse mesmo ano e ao qual aderiu D. João, Príncipe Regente de Portugal.
O Congresso de Viena, em 1815, ratificado também pela Espanha, define que a Espanha deverá efetuar a devolução dos territórios em sua posse a Portugal, devendo para isso empregar todos os esforços possíveis.
Tal nunca chegou a acontecer.
Manuel de Godoy e a Guerra das Laranjas
Godoy nascido em Badajoz, de família modesta, ingressou na Guarda Real Espanhola com 17 anos.
Ganhou amizade com os Príncipes das Astúrias e veio a tornar-se amante da princesa Maria Luísa de Parma.
Quando estes príncipes subiram ao trono, em 1788, a sua carreira sofreu um forte impulso.
Era Coronel de Cavalaria com 22 anos e em 1791 foi promovido a Tenente-General.
Aos 25 anos, em 1792, foi nomeado Primeiro-Ministro de Espanha.
Napoleão Bonaparte invadiu a Espanha pelos Pirenéus em 1793 e, perante vários desaires militares, Manuel de Godoy decide aliar-se à França em 1796, declarando guerra à Grã Bretanha.
O percurso de Godoy a partir daí foi muito atribulado.
Logo em 1797 a frota espanhola foi destruída em frente ao Cabo de São Vicente, zona de mar patrulhada por Portugal. A Marinha Britânica terá sido alertada para poder reagir rapidamente.
Godoy foi obrigado a demitir-se em 1798, mas voltou ao governo em 1801 com o apoio de Napoleão Bonaparte.
Foi neste novo contexto que atacou Portugal, após declarar a guerra em 27 de fevereiro de 1800.
Conquistou várias fortalezas no Alentejo, como foi o caso de Olivença.
É a chamada guerra das laranjas, por Manuel de Godoy ter presenteado com um ramo de laranjeira a sua soberana, a Rainha Maria Luísa.
A “Questão” de Olivença e a relação Portugal Espanha
O regime franquista, que se estabeleceu após a Guerra Civil Espanhola, foi marcado por uma forte repressão a tudo o que não fosse castelhano.
Essa visão teve obviamente impacto também em Olivença. O uso da língua portuguesa foi reprimido com penas que iam desde a multa à prisão. Os nomes das ruas em português foram eliminados e mesmo o nome das pessoas foi modificado para o seu equivalente castelhano. A administração do território foi feita por novos colonos espanhóis.
As festas populares e o folclore foram perseguidos, os brasões portugueses vandalizados e proibido rezar a santos tradicionais portugueses, como o Santo António. (Fonte: Wikipedia, Português oliventino).
Até à década de 1940, a língua ali falada era maioritariamente lusófona e no início do século XXI o português oliventino já só é falado entre idosos.
A década de 1980, com a democratização de Portugal, após a revolução de abril de 1974 e da Espanha, com a retirada de Franco, e com a integração na União Europeia em 1986 levou ao desaparecimento das fronteiras e Olivença gemina-se com várias cidades portuguesas, passando o património português a ser recuperado.
Em coordenação com Espanha, Portugal assumiu a construção de uma nova ponte e a reconstrução da Ponte da Ajuda que tinha sido parcialmente destruída pelo exército espanhol, na Guerra da Restauração (1640).
Em 2008 vários municípios espanhóis e portugueses chegaram a acordo para a criação de uma euroregião (Fonte: RTP Notícias).
No ano de 2010 foram inauguradas no centro de Olivença, novas toponímias, em azulejo.
A calçada portuguesa voltou a ser visível em alguns locais do centro histórico da cidade.

O que visitar em Olivença
Uma lista de sugestões para o que visitar em Olivença: não perca estas quatro.
Palácio dos Duques de Cadaval
É hoje a sede do Município de Olivença (Ayuntamiento) na Praça da Constituição.
Destacam-se uma bela porta em estilo manuelino, com a Cruz de Cristo, a esfera armilar e as 5 quinas.

Este antigo Palácio do Conde de Olivença veio a ser pertença, por herança, dos Duques do Cadaval.
O primeiro Conde de Olivença foi Rodrigo Afonso de Melo. Título atribuído por D. Afonso V em 1476, como prémio pelos serviços prestados como conselheiro, guarda-mor e capitão de Tanger.
Igreja de Santa Maria Madalena
Foi Sé Catedral do Bispado de Ceuta, no tempo de Henrique de Coimbra, aqui sepultado.
É uma bela obra de arte, do mais puro estilo manuelino, com uma grande variedade de azulejos bem tradicionais de Portugal que vale a pena contemplar.

Frei Henrique de Coimbra
Foi frade no primeiro Convento Franciscano de Portugal. Nasceu em Coimbra em 1465 e foi confessor do Rei D. João II e esteve no Convento de Jesus de Setúbal.

Viajou na frota de Pedro Álvares Cabral que chegou ao Brasil em 1500.
É, sobretudo, conhecido por ter celebrado a primeira missa no Brasil em 26 de abril de 1500 e celebrada ainda hoje em Belmonte berço de Álvares Cabral.

Nesta expedição, dirigia um grupo de religiosos que mais tarde o acompanharam em missões no Oriente. Numa dessas missões, cinco dos oito religiosos que o acompanhavam foram mortos num recontro com muçulmanos. Após essa missão Henrique de Coimbra regressou a Portugal.
Depois dessa missão fracassada, D. Manuel I escolheu-o para Bispo de Ceuta, que foi confirmado pelo Papa Júlio II em 1506.
Olivença foi incluída no território do Bispado de Ceuta em 1512 e foi aqui que estabeleceu a sede do seu Bispado.
O Bispo Henrique impulsionou a construção, por D. Manuel I, dos paços episcopais, do tribunal e do aljube. Foi construída a Sé Catedral, a Igreja de Santa Maria Madalena em estilo “manuelino”, que foi em parte inspirada no Convento de Jesus de Setúbal.

Ponte da Ajuda
Também conhecida por ponte de Nossa Senhora da Ajuda ou simplesmente de Olivença foi construída em 1509 por D. Manuel I.
Tinha como objetivo assegurar a operacionalidade das forças militares portuguesas na margem esquerda do Rio Guadiana e em apoio ao Castelo de Olivença.
Constituída por 19 arcos, tem cerca de 400 metros e um torreão a meio.
Em 1646 foi parcialmente destruída pelo exército espanhol, durante a Guerra da Restauração e foi reparada após o final da guerra.
Em 1709, o exército espanhol fez explodir a ponte, destruindo-a e impedindo o acesso a Olivença pelo território português.

Em 1967 o estado português declarou a ponte da Ajuda como monumento de interesse nacional.
Em 2000 foi inaugurada uma nova ponte ao lado da antiga, construída e financiada por Portugal.
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