O objetivo estratégico de Portugal, com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, era poder comerciar as especiarias que estavam controladas pelas rotas terrestres e mediterrânicas. Foi a saga dos Descobrimentos portugueses.
As Rotas Comerciais entre a Europa e o Oriente
As principais rotas comerciais do Oriente para o Ocidente estavam controladas no Mar Mediterrâneo, por onde se introduziam as especiarias (China, Pérsia, Japão e Índia) nas nações mercantilistas da Europa, como Veneza.
Veneza desempenhou um papel crucial no comércio entre o Oriente e a Europa durante a Idade Média e o Renascimento.
Com o fim das Cruzadas foi criada a Rota das Especiarias, que cruzava o Oriente Médio e chegava à Europa a partir dos comerciantes venezianos.
Os árabes detinham o monopólio dessa rota e Veneza tornou-se o centro do comércio europeu.
Além disso, a conquista de Constantinopla durante a Quarta Cruzada, liderada por Veneza, contribuiu para o ressurgimento do comércio entre o Ocidente e o Oriente.
A burguesia mercantil portuguesa encontrou na estratégia de D. João I, e da designada “Ínclita Geração”, uma forma de investir em novas empreitadas mercantis, tendo em vista reduzir os elevados preços cobrados pelos intermediários e aumentar, assim, a lucratividade desse comércio.
Seria por isso importante encontrar novas rotas marítimas que fizessem o contacto direto com os produtores e comerciantes orientais.
Os Descobrimentos Portugueses
Um dos filhos de D. João I, o Infante D. Henrique, congregou vários navegadores, cartógrafos, cosmógrafos e homens do mar na região de Sagres, que se tornou um grande centro da tecnologia marítima da época.
Muitas destas novas técnicas eram secretas, mas havia sempre tentativas para desvendar esses segredos. O Planisfério de Cantino hoje guardado em Itália, foi um espião italiano que o conseguiu obter e que continha os descobrimentos portugueses até 1502.
Em fevereiro de 1488 três navios portugueses, capitaneados pelo navegador Bartolomeu Dias, ultrapassaram o Cabo das Tormentas (atual Cabo da Boa Esperança) que até então era um dos limites do Mundo conhecido.
A descoberta do caminho marítimo da Europa para a Índia através do Oceano Atlântico e circum-navegando o continente africano foi feita sob o comando do navegador português Vasco da Gama, já durante o reinado de D. Manuel I, em 1497.
Esta descoberta consolidou a presença marítima e o domínio das rotas comerciais marítimas para o Oriente pelos portugueses e tornou necessário o controlo dos portos por onde essas especiarias eram exportadas.
Era, portanto, necessário que a frotas portuguesas controlassem o oceano em redor dos portos, bem como os navios que por aí navegassem e que tinham de pagar uma licença de comércio.
Permitia-se, assim, que o comércio no Índico continuasse desde que se pagasse um tributo para o Vice-Rei. Portugal excluía dessa permissão outros povos europeus, mas não colonizou o interior das terras onde se produziam, em particular, as especiarias.
As Novas Rotas Marítimas Portuguesas e a Carreira da Índia
As rotas comerciais no Oceano Índico que ligavam o Sudeste Asiático, a Índia, a Arábia e a África Oriental, começaram pelo menos no século III aC.
Essa vasta rede internacional de rotas ligava todas essas áreas, bem como o leste da Ásia (particularmente a China). Muito antes de os europeus “descobrirem” o Oceano Índico, os comerciantes da Arábia, Guzarate e outras áreas costeiras usavam navios (dhows) com velas triangulares para aproveitar os ventos sazonais das monções.
A descoberta de vários caminhos pelos Oceanos permitiu que durante os séculos XV e XVI, os portugueses estabelecessem várias rotas comerciais importantes entre a Europa e a Ásia, que serviram para transportar numerosas mercadorias entre os dois continentes, especialmente especiarias, metais e seda.
A frota de Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil em 1500, foi a segunda enviada para a Índia e era composta por 13 navios.
A “Carreira da Índia” era uma rota marítima que seguia diretamente de Lisboa para Goa na Índia, passando pelo Cabo da Boa Esperança.
Foi a mais importante rota marítima controlada pelos portugueses e, entre 1497 e 1650, houve 1033 partidas de navios em Lisboa para a “Carreira da Índia”.
As naus portuguesas conseguiam transportar cargas de mais de mil toneladas e levar a bordo quase um milhar de pessoas.
Portugal sobreviveu independente da Espanha sempre à custa de vitórias militares e, por isso, desde cedo contratou os melhores armeiros.
Os barcos portugueses estavam apetrechados com canhões de carregar pela culatra, muitíssimo mais céleres do que os de carregar pela boca.
No século XIX, na batalha naval entre ingleses e franceses, os canhões nos barcos ainda eram de carregar pela boca.
O poder de tiro dos barcos portugueses era de facto excelente comparado com o dos adversários.
A China, por exemplo, concedeu a Portugal o território onde se instalou a cidade de Macau pela ajuda que lhe foi prestada para acabar com a pirataria que existia na sua costa.
Assim se explica como Portugal, um território pequeno e com pouca gente, conseguiu acabar com o monopólio do comércio do Extremo Oriente para o resto Mundo, através de Veneza.
Foi, também, criada a primeira moeda do mundo global, batizada “O Português” que facilitou o comércio entre os diferentes países.
Os Confrontos Militares a Oriente
Após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, a hegemonia de Portugal só foi possível com várias guerras e confrontos, sendo a Batalha de Diu e de Omã muito relevantes.
A Batalha de Diu
A Batalha de Diu ocorreu a 3 de fevereiro de 1509, e foi um confronto naval entre o Império Português e uma frota conjunta do Sultanato Burji (Egito), do Império Otomano, do Samorim de Calecute (Índia) e do Sultão de Guzarate (Índia).

A vitória portuguesa nesta batalha teve várias implicações importantes:
1. Domínio Marítimo: A vitória consolidou o poder naval das armadas portuguesas, que se manteve invencível durante várias décadas. Esta batalha assinalou o início do domínio europeu dos mares do Oriente, que durou até à Segunda Guerra Mundial.
2. Expansão Territorial: Após a batalha Portugal capturou rapidamente vários portos importantes no Oceano Índico, incluindo Goa, Ceilão, Malaca, Bombaim e Ormuz.
3. Impacto Político: A batalha catapultou o crescimento do Império Português e estabeleceu o seu domínio político por mais de um século. Além disso, a derrota da armada egípcia acelerou a ruína e a queda do sultanato do Cairo.
4. Efeito Psicológico: O efeito psicológico desta vitória foi aniquilador, pois mostrava aos indianos que a marinha portuguesa não era só invencível para eles mas, também, para os árabes e venezianos cuja aliança, até então, havia controlado o comércio oceânico.

Batalha de Omã
Mais tarde, em agosto de 1554, ocorreu uma outra grande batalha naval no Golfo de Omã, entre uma armada portuguesa comandada por D. Fernando de Meneses e a “frota do oceano índico” do Império Otomano, comandada por Seydi Ali Reis.
A frota portuguesa era composta por 6 galeões, 6 caravelas, 25 fustas e 1200 homens. Por outro lado, a frota otomana era composta por 15 galés e 1500 homens.

Desde o Cerco de Diu em 1538 o Império Otomano procurava contrariar a influência portuguesa no Oceano Índico.
Em 1552, o almirante otomano Piri Reis liderou uma série de expedições em redor da Arábia contra os portugueses com algum sucesso.
No final de 1553, o sultão Solimão nomeou Seydi Ali Reis como almirante das forças navais otomanas em Baçorá (atual Iraque).
Em fevereiro de 1554, os portugueses despacharam de Goa uma esquadra composta por seis galeões, seis caravelas e vinte e cinco fustas.
A esquadra portuguesa comandada por D. Fernando de Meneses tinha como missão:
- em primeiro lugar, capturar as naus que nessa época do ano costumavam regressar ao mar Vermelho, idas do golfo de Bengala ou de Achém;
- em segundo lugar, dar combate às galés turcas estacionadas em Baçorá, se elas voltassem a sair para o mar.
Os turcos zarparam de Baçorá em princípios de agosto.
As forças portuguesas em Mascate foram imediatamente avisadas do movimento dos turcos e partiram para o Cabo Mussandão para enfrentá-los.
A batalha redundou numa vitória portuguesa com a perda de todas as galés otomanas.
Estas duas batalhas, Diu e Omã, foram cruciais na expansão e consolidação do Império Português.
A Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia
Assim, passo a passo se foi descobrindo e mapeando o caminho marítimo para a Índia, almejando o controlo das rotas comerciais das especiarias mas, com a experiência marítima adquirida, descobriu-se o Brasil e chegou-se à China e ao Japão.
Achei interessante, por detalhada, a parte que fala nas batalhas navais, com alguma informação que desconhecia.
Sobre as motivações do estabelecimento de uma rota para o Índico, há historiadores que concordam que o objetivo não era apenas comercial, mas geoestratégico: a queda de Constantinopla tinha tido enormes repercussões na Europa cristã, e o avanço dos turcos no Mediterrâneo constituía uma ameaça enorme. O domínio do Índico por uma potência cristã seria um “ataque pela retaguarda” que privaria os turcos (os Mamelucos do Egito, depois os Otomanos em todo o Médio Oriente) de recursos substanciais. A famosa busca pelo “Preste João” inseria-se nesta estratégia. Mas como na época ela era descrita sobretudo em termos religiosos (“a expansão da fé cristã”), esta componente da estratégia de expansão acabou por ser vista como um argumento pouco credível à luz dos valores atuais.
Por fim, não existem nenhuns vestígios que credibilizem a existência física de uma “Escola de Sagres”… em Sagres ou nas suas imediações. Essa “escola” era mais provavelmente uma “rede” de saberes (cartografia, astronomia, marinha, etc.) com polos em Lisboa, Lagos e outros portos, laboriosamente recrutada e financiada pelo Infante D. Henrique e, segundo alguns historiadores, pelo Infante D. Pedro, especialmente talhado para isso pelas suas relações por toda a Europa.