Crescimento da População Portuguesa a diminuir

Crescimento da População Portuguesa a Diminuir, Saiba Porquê

O crescimento da população portuguesa, de acordo com o último censo, está a diminuir. Essa perda, se não for compensada, tornará crítico o desenvolvimento do país. Vários fatores contribuem para este decréscimo.

A Taxa de Crescimento da População Portuguesa

A taxa de crescimento da população desce desde 2001 e atinge em 2021 um valor negativo similar ao que existiu em 1970, segundo os Censos (Fonte: Pordata).

Esta situação é o resultado de vários fatores que vamos abordar.

Taxas de Natalidade e Fertilidade em Decréscimo

As taxas de natalidade, de acordo com aquela mesma fonte, estão também a decrescer.

Taxa bruta de natalidade numero de bebes que nascem por 1000 residentes, Fonte: Pordata
AnosTaxa de natalidade
1960 24.1
1961 24.4
1962 24.5
1963 23.5
1964 24.0
1965 23.4
1966 23.2
1967 22.8
1968 22.1
1969 21.7
1970 20.8
1971 21.0
1972 20.2
1973 20.0
1974 19.6
1975 19.8
1976 20.0
1977 19.1
1978 17.5
1979 16.6
1980 16.2
1981 15.4
1982 15.2
1983 14.5
1984 14.3
1985 13.0
1986 12.6
1987 12.3
1988 12.2
1989 11.8
1990 11.7
1991 11.7
1992 11.5
1993 11.4
1994 10.9
1995 10.7
1996 11.0
1997 11.2
1998 11.2
1999 11.4
2000 11.7
2001 10.9
2002 11.0
2003 10.8
2004 10.4
2005 10.4
2006 10.0
2007 9.7
2008 9.9
2009 9.4
2010 9.6
2011 9.2
2012 8.5
2013 7.9
2014 7.9
2015 8.3
2016 8.4
2017 8.4
2018 8.5
2019 8.4
2020 8.2
2021 7.7

Em 1960 a taxa bruta de natalidade (número de bebés que nascem por 1.000 residentes) era de 24,1 e em 2021 de 7,7.

Por outro lado, Portugal tem uma taxa de fertilidade (nascimentos por mulher) de 1,4, inferior à média da União Europeia com 1,5, e só superior a Malta, Espanha, Itália, Chipre e Grécia.

No entanto, a esperança média de vida à nascença tem vindo a aumentar de forma consistente desde 1970, em que era de 67,1 anos, e a atingir 80,7 anos em 2020, resultado da melhoria das condições de prestação de cuidados de saúde. (Fonte: Pordata).

Esperança de vida à nascença, valor total
AnoEsperança de Vida
1970 67.1
1971 66.8
1972 68.5
1973 67.6
1974 68.2
1975 68.4
1976 69.0
1977 70.1
1978 70.5
1979 71.0
1980 71.1
1981 71.7
1982 72.5
1983 72.4
1984 72.6
1985 72.9
1986 73.4
1987 73.8
1988 73.8
1989 74.4
1990 74.1
1991 74.1
1992 74.4
1993 74.6
1994 75.0
1995 75.4
1996 75.3
1997 75.5
1998 75.8
1999 76.0
2000 76.4
2001 76.7
2002 77.0
2003 77.4
2004 77.7
2005 78.2
2006 78.5
2007 78.7
2008 78.9
2009 79.3
2010 79.6
2011 79.8
2012 80.0
2013 80.2
2014 80.4
2015 80.6
2016 80.8
2017 80.8
2018 80.9
2019 81.1
2020 80.7

Na verdade, todos os países desenvolvidos apresentam uma redução da taxa de fertilidade.

Uma das razões apontadas, é que se passou a estudar e divulgar a necessidade de se planear o aumento da família através de mecanismos de contraceção.

Até 1975 a contraceção era proibida e considerada um “crime contra a moralidade”, em linha com a Santa Sé, podendo até dar lugar a uma pena de prisão.  A venda de contracetivos era ilegal.

A Lei da Liberdade Sexual foi aprovada em 1975, descriminalizando a contraceção e a venda de contracetivos.

Os filhos deixaram de ser uma força de trabalho nas sociedades mais evoluídas e a educação passou a ser mais generalizada.

As condições em que se pode fazer um aborto foram estabelecidos por Lei da Assembleia da República em 2007.

A crescente urbanização, mudanças culturais e a instabilidade económica influenciam a baixa taxa de natalidade e consequentemente o crescimento da população portuguesa.

As Migrações em Portugal

Uma das razões para o declínio da população está na saída de população portuguesa, que não é compensada por fluxos de imigração.

Assim, a emigração portuguesa teve um pico em 2014 com a saída de 134.624 pessoas.

Evolução Total de Emigrantes Crescimento da População Portuguesa; Fonte Pordata
Evolução Total de Emigrantes, crescimento da população portuguesa; Fonte: Pordata

Por outro lado, a imigração para Portugal diminuiu consideravelmente durante a crise de 2009 a 2012, mas está atualmente a subir e teve um pico em 2019.

Evolução de imigrantes permanentes total e por sexo Crescimento da população Portuguesa; Fonte Pordata
Evolução de imigrantes permanentes total e por sexo, crescimento da população portuguesa; Fonte: Pordata

Em grande parte, o aumento de população entre 2011 e 2021, deve-se sobretudo à imigração proveniente do Brasil, Angola, França, Moçambique, Cabo Verde, Venezuela e Ucrânia.

População residente de naturalidade estrangeira segundo os Censos total e por país de naturalidade, Fonte: Pordata
Países20112021
Total8718131089023
Total Europa281416319326
Alemanha2800028181
Espanha1648918216
França94484103285
Suiça1684220919
Reino Unido1913131994
Ucrânia3317233616
Total África369992353117
Angola162604156998
Cabo Verde6195355270
Guiné-Bissau2957826081
Moçambique7308465270
São Tomé e Príncipe1864520405
Total América186165342234
Brasil139703271177
Venezuela2515742001
Total Ásia3285372592
China1088714109
Índia812917401
Oceânia13751754
Outros países120

Os saldos populacionais anuais são o resultado da diferença entre o número de nascimentos e mortes (saldo natural) e entre o número de imigrantes e emigrantes (saldo migratório).

O saldo migratório foi positivo em 1975 com o regresso de parte da população portuguesa das antigas colónias, após a revolução de 25 de abril que pôs fim à ditadura em 1974.

A partir de 2017 o saldo migratório volta a ser positivo.

Nos restantes anos a população portuguesa que emigrou é superior à entrada de imigrantes e, por isso, o saldo passou a ser negativo.

Por outro lado, o saldo natural, isto é, a diferença entre nascimentos e mortes tornou-se negativo após o ano de 2008.

Desta diferença, entre o saldo natural e o saldo migratório, resulta um crescimento negativo da população portuguesa a partir de 2010.

Saldos populacionais anuais saldo total, saldo natural e saldo migratório
AnosSaldo totalSaldo naturalSaldo migratório
1960-- 118.9--
1961 80.0 117.9 -37.9
1962 50.0 123.3 -73.3
1963 23.0 114.1 -91.1
1964 -13.0 120.3 -133.3
1965 -61.0 115.1 -176.1
1966 -74.0 106.9 -180.9
1967 -38.0 106.2 -144.2
1968 -38.0 100.3 -138.3
1969 -120.0 88.7 -208.7
1970 -34.7 87.6 -122.3
1971 -39.0 82.6 -121.5
1972 12.3 84.4 -72.0
1973 -7.0 76.9 -83.9
1974 249.5 75.1 174.5
1975 428.7 81.7 347.0
1976 96.0 84.7 11.3
1977 103.7 85.0 18.8
1978 101.4 71.3 30.1
1979 104.6 67.6 37.0
1980 105.4 63.5 41.9
1981 64.7 56.3 8.3
1982 56.2 58.6 -2.4
1983 36.0 48.1 -12.1
1984 40.7 45.8 -5.1
1985 14.0 33.4 -19.3
1986 4.2 31.2 -27.0
1987 -9.6 28.1 -37.7
1988 -11.2 24.2 -35.5
1989 -18.0 22.7 -40.8
1990 -25.6 13.6 -39.1
1991 -20.4 12.4 -32.8
1992 4.9 14.3 -9.4
1993 19.4 8.0 11.4
1994 34.3 10.0 24.3
1995 35.0 3.6 31.4
1996 40.5 3.4 37.1
1997 49.6 8.2 41.4
1998 52.9 7.2 45.7
1999 62.4 8.1 54.3
2000 81.8 14.6 67.1
2001 63.9 7.7 56.2
2002 49.9 8.1 41.8
2003 28.5 3.7 24.7
2004 21.6 7.3 14.3
2005 17.3 1.9 15.4
2006 20.6 3.5 17.1
2007 20.8 -1.0 21.8
2008 9.7 0.3 9.4
2009 10.5 -4.9 15.4
2010 -0.8 -4.6 3.8
2011 -30.3 -6.0 -24.3
2012 -55.1 -17.8 -37.3
2013 -60.0 -23.8 -36.2
2014 -52.5 -22.5 -30.0
2015 -33.5 -23.0 -10.5
2016 -31.8 -23.4 -8.3
2017 -18.5 -23.6 5.1
2018 -14.4 -26.0 11.6
2019 19.3 -25.3 44.6
2020 75.7 -38.9 114.6
2021 -19.6 -45.2 25.6

Embora a imigração ajude a compensar quer a baixa taxa de natalidade, o envelhecimento da população e a emigração, a política de atração de imigrantes tem de ser melhorada no sentido de chamar jovens qualificados que possibilitem reforçar a capacidade de inovação e desenvolvimento que se está a perder, nomeadamente com a emigração dos jovens portugueses qualificados.

Evolução do Salário Mínimo em Portugal

Os salários mínimos mensais até 2010 tiveram uma evolução positiva, no período de 2010 a 2014 estacionaram e, após 2014, houve uma evolução grande até se atingir o valor de 760€ em 2023. Após a revolução de Abril de 1974 o salário mínimo evoluiu quarenta e seis vezes, ou seja, de 16,5€ para 760€ em 2023.

Evolução do salário mínimo nacional, valor mensal bruto, Fonte Pordata
Evolução do salário mínimo nacional, valor mensal bruto; Fonte: Pordata

Em Portugal o salário mínimo evoluiu de 554€ para 823€ entre 2010 e 2022, 48,6%, cerca de 4% por ano.

Em Espanha passa de 739€ para 1.167€ no mesmo período, 57,9%, 4,8% por ano.

Nos Países Baixos de 1.412€ para 1.741€, 23,3%, 2% por ano.

Comparando a evolução do salário mínimo nos vários países da Zona Euro, tem-se o seguinte:

Salários Mínimos a preços correntes de 2021 em Euros (€), Países da Zona Euro, Fonte: OCDE
AnoAustriaBelgiumEstoniaFinlandFranceGermanyGreeceItalyLatviaLithuaniaLuxembourgNetherlandsPortugalSlovak RepublicSpain
200041,35244,7408,16536,88233,02537,16217,32929,5546,8647,85959,04646,17918,5359,58827,300
200141,22244,8778,46637,07633,23237,43317,91229,7647,0878,29759,41846,86418,6109,58827,157
200241,84646,0358,95037,27534,12937,65319,54029,5536,8718,85760,63647,01018,60210,08227,293
200341,94346,3109,79437,98434,40737,77820,40129,4717,3629,81260,20347,34118,55910,27727,154
200442,73946,06710,61239,23734,96837,77320,77530,0428,00410,88860,88548,08618,58310,42626,808
200542,97045,62911,32440,06435,39037,91020,70630,4429,30912,02961,17948,08618,48211,06526,924
200643,61245,93912,33340,89335,78537,90220,95230,63110,26513,77562,02547,98118,08111,44826,795
200743,86245,85414,34141,43935,91637,78720,95630,62012,65514,67363,70448,65018,20112,15127,086
200844,59946,05214,52941,79435,84737,95620,63230,58113,05814,94163,37348,94518,14112,27628,043
200945,35846,69414,11542,15436,98737,96421,60630,81511,79212,97465,34651,00318,97912,69329,808
201045,15446,47814,03242,73737,73438,29620,61931,08011,33613,02365,38550,95418,90213,24629,526
201144,66246,95413,73642,74937,66639,06919,31130,57910,94313,28965,75450,72618,44213,13028,999
201244,91547,33413,90342,78437,91039,59018,18729,61211,38713,51165,07050,89717,65012,96728,187
201344,93647,80214,24042,35638,23039,96316,99929,70711,93114,02365,85251,04717,98513,06628,189
201445,10248,06814,99142,34238,49340,63316,92929,82012,73214,66166,97750,77417,67513,32828,102
201545,43047,74215,69542,67338,86041,56717,09530,08313,79515,62167,32151,39117,62213,85128,522
201645,86147,84516,55243,04839,30942,20416,70330,32214,60516,42467,11651,59817,52914,29228,362
201745,85147,51016,93142,80139,85542,64916,81030,12215,12817,37267,97451,22617,60014,71527,992
201846,00247,76717,85343,11739,80443,25616,03430,16615,68518,16668,03250,66417,89215,13127,898
201946,36148,23618,90443,56140,18843,95016,17830,31916,36719,38968,14650,35018,59915,62527,957
202046,43346,94920,03343,69538,53743,62916,23528,55917,09220,58768,11951,53918,79415,82726,939
202147,17748,44820,76645,36540,11543,72216,25029,69418,48121,84370,44751,00519,21216,08527,483

O aumento dos salários mínimos, embora contestados pelas entidades patronais, obrigará a que os atuais e futuros empreendedores tenham de ajustar as suas estratégias a esta realidade e consigam acrescentar valor aos seus produtos e serviços, por forma a tornar as empresas mais produtivas, competitivas e com soluções inovadoras, de modo a que os pagamentos de salários mais elevados não os faça perder mercado e, pelo contrário, os tornem diferentes e mais desejados.

Importa deixarmos de ser um país de produtos e serviços de baixo valor incorporado e passarmos a ter capacidades de criação, produção e exportação de produtos com maior valor incorporado ou que, por razões tecnológicas, permitam estar na frente da competição.

Por exemplo, a CaetanoBus que após um contrato de exportação de autocarros a hidrogénio para a Alemanha ganhou um novo cliente em Espanha.

Desempenho Económico e o Crescimento da População

Os fracos desempenhos económicos dos últimos anos em Portugal levam a que os salários médios a preços constantes sejam em 2021 de 19.212€, um pouco superior ao ano 2000, de 18.535€, embora em ligeira subida desde 2017, de acordo com a OCDE (valores em Euros).

Por outro lado, o desemprego médio também aumentou para 17,1% em 2013, enquanto a geração com menos de 25 anos teve uma taxa de desemprego de 38,3% (Pordata).

Taxa de desemprego total e por sexo, Fonte Pordata
Taxa de desemprego total e por sexo; Fonte: Pordata

No entanto, a taxa de desemprego tem vindo a diminuir e, em 2022 a média foi de 6,0%, ficando para a geração com menos de 25 anos o desemprego em 19%.

Taxa de desemprego total e por grupo etario Fonte Pordata
Taxa de desemprego total e por grupo etário; Fonte: Pordata

Também a Economia pode explicar o aumento da emigração, não só pela questão dos salários e precariedade de condições, como também pelas oportunidades de emprego.

Os salários, o desemprego e ainda os elevados níveis de precariedade no trabalho pressionam negativamente a criação de família, além de levar à emigração com consequências negativas no crescimento da população portuguesa.

Emancipação das Mulheres e o Crescimento da População

Os países do Sul da Europa, como Portugal, Espanha, França e Itália com sociedades muito conservadores e influenciadas pelo catolicismo, estão confrontadas com as sociedades mais progressistas do Norte Europeu, como a Suécia e a Holanda, que mantêm a possibilidade de as mulheres trabalharem em tempo parcial para poderem ter filhos e acompanhá-los.

Em 2022 só 9,3% das mulheres portuguesas trabalham a tempo parcial, enquanto na Holanda 63,5% das mulheres empregadas trabalham a tempo parcial (Fonte: Eurostat).

Esta situação pode não ajudar a ter mais filhos e, mesmo em tempo parcial, a remuneração em Portugal será insuficiente para se poder considerar uma família mais numerosa.

A capacidade instalada de creches gratuitas ou a preços acessíveis está muito abaixo do que seria expectável e, assim, não ajuda ao aumento dos agregados familiares.

Independência dos jovens

Nos países a norte da Europa os jovens abandonam os lares parentais mais cedo do que em Portugal, tornando-se independentes.

De acordo com os dados do Eurostat de 2020, 85,4% dos jovens (entre os 18 e 34 anos) mantêm-se nos lares parentais em Portugal, enquanto estes na Dinamarca, por exemplo, são 28,5%.

A cultura nos países do Sul da Europa mantém os jovens muito dependentes dos pais que lhes compram tudo, em particular telemóveis de última geração e outros dispositivos tecnológicos, o que não os impulsiona para a vida profissional.

Claro que as questões económicas dos baixos salários, emprego precário e habitação muito cara também não ajudam ao estabelecimento de novas famílias.

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