O soft power é um conceito criado em 2004 por Joseph Nye e que tem sido desenvolvido para determinar as caraterísticas políticas dos Países, entre os quais Portugal. Anualmente é publicado um relatório com o ranking dos Países pelo score deste indicador. Hard power vs soft power, o que distingue estes dois conceitos.
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Índice
O Poder
Na política, o poder é para o investigador, Joseph Nye, a capacidade para influenciar os comportamentos das pessoas e obter, através deles, determinados resultados.
Estes resultados, em termos políticos, podem ser por exemplo, para obter mais votos numa eleição ou num referendo. Mas o resultado pode ser, também, o de obter vantagens em contexto de negociação internacional.
Para obter esse poder pode-se influenciar os comportamentos de duas formas antagónicas:
- Coagir com ameaças ou induzir determinado comportamento através de pagamentos, por meio da corrupção
- Cooptar, atraindo e tornando essas pessoas interessadas e cooperantes para a causa que pretendemos
Hard Power
Por outro lado, a utilização de meios coercivos ou não éticos, por contraposição, designa-se hard power.
Intervenções militares ou sanções económicas são exemplos de hard power.
Soft Power
Fazer com que os outros queiram o que pretendemos, sem usar a coerção mas usando a empatia e a confiança, é o que Joseph Nye designou de soft power.
Assim, o soft power é a capacidade que um país tem para influenciar a atuação de outros “players” internacionais, sejam países, empresas ou grupos de pressão, através da persuasão e não das armas e do dinheiro.
Finalmente, conhecendo os efeitos do hard power vs soft power, a combinação equilibrada das duas formas de poder, numa estratégia vencedora, é o smart power.
Hard Power vs Soft Power
As grandes instituições internacionais e os Estados utilizam o soft power de uma forma mais ou menos eficaz, dependendo das suas capacidades.
Este poder é uma forma de atingir o objetivo que se pretende, pois para exercer o hard power são necessários meios mais agressivos, económicos, financeiros ou bélicos.
Um País para exercer o soft power tem possibilidade de utilizar três recursos:
- A sua cultura, na parte relevante e atraente para os outros
- Os valores políticos
- As políticas externas, quando e onde forem reconhecidas como legítimas e com autoridade moral
Com o soft power “a melhor propaganda não é a propaganda” como disse Nye, mas conseguir obter uma grande credibilidade, que nos tempos que correm é um recurso que podemos dizer de escasso.
Ranking do Soft Power
No relatório de 2019, dos 30 países com melhor score no soft power, publicado pela Soft Power 30 da Portland, encontra-se Portugal.
Portugal tinha em 2015 a posição 22ª, evoluiu para a 21ª posição em 2016 e ficou estabilizado na 22ª posição de 2017 a 2019.
A evolução de 2015 a 2019 do indicador do soft power foi a que se mostra no gráfico.
Para comparação com outros países apresenta-se, de seguida, o quadro dos 30 melhores Países e a evolução do indicador entre 2018 e 2019
Posição 2019 | País | Score 2019 | Score 2018 |
---|---|---|---|
1 | França | 80,28 | 80,14 |
2 | Reino Unido | 79,47 | 80,55 |
3 | Alemanha | 78,62 | 78,87 |
4 | Suécia | 77,41 | 74,77 |
5 | USA | 77,40 | 77,8 |
6 | Suiça | 77,04 | 74,96 |
7 | Canada | 75,89 | 75,7 |
8 | Japão | 75,71 | 76,22 |
9 | Australia | 73,16 | 72,91 |
10 | Holanda | 72,03 | 73,79 |
11 | Itália | 71,58 | 70,4 |
12 | Noruega | 71,07 | 69,6 |
13 | Espanha | 71,05 | 69,11 |
14 | Dinamarca | 68,86 | 70,7 |
15 | Finlandia | 68,35 | 67,71 |
16 | Austria | 67,98 | 67,23 |
17 | Nova Zelandia | 67,45 | 66,68 |
18 | Belgica | 67,17 | 67,25 |
19 | Coreia do Sul | 63,00 | 62,75 |
20 | Irlanda | 62,91 | 62,78 |
21 | Singapura | 61,51 | 62,44 |
22 | Portugal | 59,28 | 57,98 |
23 | Polónia | 55,16 | 54,14 |
24 | Republica Checa | 54,35 | 52,64 |
25 | Grécia | 53,74 | 54,63 |
26 | Brasil | 51,34 | 50,69 |
27 | China | 51,25 | 51,85 |
28 | Hungria | 50,39 | 53,49 |
29 | Turquia | 49,70 | ND |
30 | Russia | 48,64 | 51,1 |
Portugal, embora mantendo-se na mesma posição, melhorou o indicador de 57,98 para 59,28.
Essa evolução deveu-se, sobretudo, a uma política financeira cautelosa que permitiu a melhoria das notificações de crédito por parte das agências de rating.
Com esta melhoria foi possível um impulso positivo na confiança do investimento estrangeiro.
A história, cultura e a língua em Portugal são os pontos favoráveis que mais contribuíram para este score do soft power. Assim, quanto maior visibilidade e reconhecimento tiverem estes parâmetros, mais aumentará este fator distintivo.
Neste contexto as políticas externas, sobretudo as que tenham em conta as relações privilegiadas com os Países de expressão portuguesa e as comunidades luso descendentes na América do Sul e do Norte, serão as que devem ser mais desenvolvidas.
O Relatório da Brand Finance
Em 2022 o relatório publicado pela Brand Finance coloca Portugal na 32ª posição com os 5 países de topo a saber, Estados Unidos da América (USA), Reino-Unido, Alemanha, China e Japão.
O score de Portugal é de 41,0, subindo 0,2 mas descendo a sua posição que em 2021 era a 28ª.
Neste relatório destacam-se três vertentes:
1ª. Os domínios mais valorizados referem-se à familiaridade e reputação. Assim, o reforço da comunicação e marketing internacional deve ser valorizar cada vez mais estas particularidades de Portugal e dos portugueses em geral, bem como da sua forma muito particular de receberem quem os visita. Mostrar e atrair internacionalmente o que se pode usufruir da história e da cultura genuinamente portuguesas.
2ª. A imagem e reputação que Portugal tem junto de especialistas como sejam cientistas, gestores, jornalistas, políticos, entre outros, é melhor do que a que tem junto do público em geral. Daqui decorre a importância em se apostar num marketing mais agressivo e direcionado a esse público, para melhorar a nossa imagem e a Marca Portugal.
3ª. O score mais baixo de Portugal é na educação e ciência, com 2,6, que contrasta com o score da Alemanha de 7,5. Uma aposta que não estamos a atingir e que é necessário melhorar substancialmente.
Conclusão
Um país que não tem o poderio militar e económico das grandes potencias, deve apostar na capacidade de interação internacional e focar-se na utilização do seu soft power.
A nossa presença centenária em quase todos os continentes, o mar que sempre nos abraçou e uma língua comum com os vários Países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) não representam só uma oportunidade, mas uma obrigação de melhorarmos as nossas capacidades de influência internacional.
Alavancar os nossos níveis de educação e ciência, é uma tarefa longa mas à qual não podemos deixar de emprestar todos os esforços. Uma melhor política de incentivo à meritocracia, com sistemas de avaliação de desempenho mais bem estruturados, deveria ser uma prioridade e estender-se aos outros setores da Administração Pública.
São aspectos que nos podem posicionar melhor no ranking reputação dos países e melhorar o soft power.
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