Dessalinização da água do mar

Dessalinização da água do mar para combater a escassez de água

A água é um dos recursos cruciais para o Mundo. Indispensável para a sobrevivência quer do homem quer dos seres vivos que nos acompanham. Apesar do planeta estar coberto por 70% de água, é cada vez mais um recurso escasso, também em Portugal. A dessalinização da água do mar é uma das formas de combater a escassez de água doce.

Tempo estimado de leitura: 6 minutes

As zonas do globo onde a escassez de água é mais crítica

O World Resources Institute (WRI) é uma organização não governamental cuja missão é “levar a sociedade humana a viver de forma a proteger o meio ambiente da Terra e a sua capacidade de suprir as necessidades e aspirações das gerações atuais e futuras”.

É por isso necessário encontrar condições para uma maior equidade e para que a prosperidade se atinja com uma gestão sustentável dos recursos naturais que são património de todos.

O WRI utilizou um conjunto de modelos climáticos e cenários socio económicos para calcular e estimar as possibilidades de escassez de água ou “stress hídrico”, quando a procura de água for superior à disponibilidade existente. Fez esse estudo para 167 países em 2015 e apresentou vários cenários de stress hídrico, entre os quais o stress hídrico para 2040 no cenário de “business as usual (BAU)”.

Países com Maior Risco Hídrico; Fonte: World Resources Institute (WRI)
RankPaísTodos setoresIndustrialDomésticoAgricultura
1Bahrein5,005,005,005,00
1Kuwait5,005,005,005,00
1Catar5,005,005,005,00
1San Marino5,005,005,005,00
1Singapura5,005,005,00Sem dados
1Emiratos Árabes Unidos5,005,005,005,00
1Palestina5,005,005,005,00
8Israel5,005,005,005,00
9Arábia Saudita4,995,005,004,99
10Omã4,974,974,974,97
11Líbano4,974,974,974,97
12Quirguistão4,934,934,924,93
13Irão4,914,974,974,90
14Jordânia4,864,874,864,86
15Líbia4,774,604,604,80
16Iémen4,744,664,634,75
17Macedónia4,704,694,594,79
18Azerbeijão4,694,594,584,74
19Marrocos4,684,654,634,69
20Cazaquistão4,664,504,514,76
21Iraque4,664,584,564,73
22Arménia4,64,574,624,58
23Paquistão4,484,274,234,50
24Chile4,454,734,694,41
25Síria4,444,764,714,37
26Turquemenistão4,304,324,254,30
27Turquia4,274,594,534,13
28Grécia4,234,194,184,23
29Uzbequistão4,194,474,454,12
30Argélia4,174,324,294,03
31Afeganistão4,123,373,624,19
32Espanha4,073,643,644,22
33Tunísia4,064,414,384,00
34México3,993,463,404,12
35República Dominicana3,943,773,764,09
36Estónia3,913,923,801,50
37Mongólia3,854,054,043,48
38Bélgica3,743,743,753,25
39Itália3,673,583,583,80
40India3,613,243,183,70
41Andorra3,573,503,583,62
42Mónaco3,563,563,563,56
43Austrália3,553,723,713,52
44Portugal3,553,353,363,61
45Tajiquistão3,443,593,393,42
46Sri Lanka3,333,233,243,53
47EUA3,322,882,864,16
48China3,303,163,063,44
49Albânia3,283,333,373,22
50Haiti3,273,203,213,34
51Indonésia3,263,423,282,99
52Ucrânia3,253,173,163,77
53África do Sul3,192,982,903,29
54Namibia3,184,473,562,11
55Peru3,183,113,023,21
56Timor-Leste3,183,313,333,08
57Filipinas3,012,962,923,26
58Botswana3,003,413,300,87
59Eritreia3,002,902,893,05
60Kosovo2,963,033,052,30
61Cuba2,902,922,902,90
62Moldávia2,852,992,842,56
63Luxemburgo2,762,762,762,75
64Geórgia2,752,562,522,94
65Argentina2,692,492,422,99
66Holanda2,672,672,682,75
67Suazilândia2,632,172,232,70
68Coreia do Sul2,592,422,422,84
69Reino Unido2,382,382,372,81
70Lituânia2,302,302,302,09
71França2,282,362,351,90
72Japão2,242,152,142,41
73Nepal2,182,272,122,18
74Polónia2,052,052,052,21
75Venezuela1,982,552,541,74
76Ecuador1,881,281,282,04
77Finlândia1,861,901,800,54
78Lesoto1,841,841,841,84
79Bulgária1,841,811,782,69
80Tailândia1,821,711,591,85
81República Checa1,811,811,811,91
82Rússia1,791,601,603,02
83Malásia1,781,781,702,00
84Irlanda1,731,931,841,22
85Alemanha1,701,701,701,67
86Somália1,661,591,731,40
87Suécia1,631,661,640,93
88Sudão1,561,721,641,55
89Egipto1,532,072,251,25
90Coreia do Norte1,501,471,481,54
91Roménia1,501,571,631,42
92Bielorrúsia1,351,351,361,37
93Suiça1,261,241,281,34
94Canadá1,261,131,133,28
95Guatemala1,231,131,071,68
96Montenegro1,221,141,261,68
97Angola1,211,190,901,44
98Honduras1,171,141,121,33
99Taiwan1,140,960,951,60
100Eslováquia1,081,121,180,73

O WRI considera os seguintes níveis de stress hídrico,

  • Score [0 – 1) Risco Baixo
  • Score [1 – 2) Risco Baixo a Médio
  • Score [2 – 3) Risco Médio a Elevado
  • Score [3 – 4) Risco Elevado
  • Score [4 – 5) Risco Extremamente Elevado

Assim, no nível de stress hídrico extremamente elevado encontram-se 33 países.

Oito países têm o score máximo de 5,0 e são eles o Bahrein, Kuwait, Palestina, Catar, Emiratos Árabes Unidos, Israel, San Marino e Singapura.

Quatorze dos trinta e três países com risco hídrico extremamente elevado estão no Médio Oriente.

No grupo de Países com risco elevado estão, entre outros, Bélgica, Itália, Portugal, EUA, China, Ucrânia e Timor-Leste.

Grandes potências como a Índia, os USA e a China estão entre os 50 países com maior risco hídrico.

Como lutar contra a escassez de água doce

A água doce é um dos recursos mais escassos do Planeta e a sua falta já afeta, segundo a ONU, cerca de 40% da população mundial.

Uma das soluções é a dessalinização da água do mar.

Este processo consiste em eliminar os minerais presentes na água do mar, em particular o cloreto de sódio, vulgarmente designado por sal.

Essa dessalinização pode ser feita por processos físicos ou químicos.

Atendendo a que o mar cobre 70% do Planeta, a fonte de matéria prima parece ser suficiente para poder ser aproveitada e fornecer água doce, pese embora parte dessa água não poder ser utilizada, por estar, por exemplo, em forma de gelo.

Os vários processos de dessalinização

O processo natural

Durante o ciclo hidrológico, a água do mar evapora, deixa para traz o sal e forma nuvens de água doce, na sua forma gasosa, o chamado vapor de água.

Assim, com o arrefecimento da temperatura esse vapor condensa e dá origem à chuva, voltando direta ou indiretamente para o mar.

O processo mais antigo que permite evaporar a água do mar e condensar o vapor em forma de água doce é com a utilização do alambique.

Esta ideia de transformar a água salgada em água doce remonta à Antiguidade.

Aristóteles, há 2300 anos, costumava explicar aos seus discípulos que a “água salgada quando passa a vapor torna-se doce e assim fica depois de condensar”.

Este processo tem a desvantagem de necessitar de grandes quantidades de energia.

No entanto, existem outros processos que são agora mais utilizados.

Destilação Solar

Este processo, que imita o ciclo hidrológico, consiste em evaporar a água do mar em grandes instalações cobertas. O vapor de água quando encontra a cobertura condensa e é recolhida na forma de água doce, através de condutas.

Eletrodiálise

Neste caso o processo consiste em fazer passar a água salgada entre membranas carregadas eletricamente, as quais retêm os iões de sais dissolvidos na água e obtendo, assim, água com índices de sais inferiores a 500mg/l, o necessário para ser água doce.

Nanofiltração

Este processo de dessalinização utiliza nanotubos que são mais permeáveis que a osmose, melhorando assim o rendimento e utilizando menos espaço e menos energia.

As membranas são fabricadas com compostos sulfonados que removem não só os sais da água salgada, mas também vestígios de poluentes.

Formação de hidratos gasosos

Aqui, combinando a água salgada com um gás, como o propano, com alta pressão e baixa temperatura, formam-se hidratos gasosos que eliminam os sais e impurezas da água.

Elevando a temperatura o gás pode ser recuperado, mantendo a água doce.

Osmose inversa (ou reversa)

A água salgada passa através de membranas semi-permeáveis que retêm o sal. Utilizam-se membranas de poliamida ultrafina que podem ser contaminadas com bactérias, exigindo que a água seja depois sujeita a um tratamento adequado.

É o processo mais utilizado por consumir menos energia.

Fábrica de dessalinização de água do mar, Barcelona; Osmose Inversa
Fábrica de dessalinização de água do mar, Barcelona; Osmose Inversa; CC BY-SA 4.0

A situação em Portugal

A evolução prevista para o risco de carência de água é, de acordo com o WRI e considerando a projeção “Business as Usual”, a seguinte,

Ou seja, se nada for feito a situação vai-se degradar de 3,07 para 3,55 sendo. no entanto, a situação no setor agrícola a que estará em maior carência.

Em 1980 entrou em funcionamento a fábrica de dessalinização de Porto Santo, no Arquipélago da Madeira, que utiliza o processo de dessalinização por osmose inversa.

Esta fábrica está dimensionada para produzir até um caudal máximo de cerca de 6.900 m3/dia, por intermédio de quatro unidades de dessalinização e é a única origem de água potável com qualidade utilizada para abastecimento público.

Acresce que em Portugal a escassez da água é agravada pela ineficiente gestão dos nossos recursos hídricos.

Nos Municípios portugueses a média de perda de água é de 30% e na agricultura a perda é superior, sendo que é na agricultura que se gasta 70% da água.

Desafios da dessalinização da água do mar

De acordo com o estudo de 2018 do Instituto para a Água, Meio Ambiente e Saúde da Universidade das Nações Unidas (UNU-INWEH) existem cerca de 16.000 fábricas ou centrais de dessalinização no Mundo.

A dessalinização da água do mar é uma necessidade que vai aumentar à medida que as reservas de água doce diminuírem.

No entanto, este processo tem impacto sobre o ambiente que é preciso minimizar.

Assim, o resíduo resultante do processo, a salmoura, tem uma elevada concentração de sal e poluentes.

Este estudo menciona que se devem investigar possibilidades de tornar viável economicamente esta salmoura, seja para utilização na aquacultura, para irrigar espécies tolerantes ao sal, gerar energia e recuperar os sais e metais existentes na salmoura, incluindo o magnésio, gesso, cálcio, potássio, sódio, cloro, bromo e lítio.

Os Oceanos além da energia verde das ondas e marés que nos podem fornecer, poderão ser uma fonte da água doce necessária à nossa sobrevivência.

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1 thought on “Dessalinização da água do mar para combater a escassez de água”

  1. António Almeida

    Um artigo interessante, e importante, para o início de uma análise profunda por parte de alguém responsável dos nossos Governos. O posicionamento no 44º lugar com um score de “Risco Elevado” não nos permite descurar uma rápida implementação de uma estratégia a curto e longo prazo.

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